domingo, 31 de julho de 2011

ENECOM PARÁ 2011 – Um Outro Mundo é, sim, Possível!


Dérek Sthéfano*

“Se é capaz de indignar-se
a cada vez que uma injustiça
é cometida no mundo,
então somos companheiros”
Che

       8 dias, este foi o tempo para que a correria de muitos estudantes se materializa-se, após lutas para liberação de espaços, ônibus, organização de painéis e demais espaços de discussão, enfim, de todas as demandas que se necessita para efetivar um encontro estudantil. E, o que se presenciou de concreto nos oito dias de ENECOM Pará foram muitas discussões, respostas, duvidas, inquietações, indignações, paixões, desamores, coletividade, manifestações... E LUTA!
        Momentos em que INDIGNADOS se encontraram para trocar angustias, problemas, utopias, ESPERANÇAS e a certeza de que só a partir da luta conjunta poderemos transformar esta realidade que nos é imposta como se fosse a única possível. E foi com este proposito que o encontro tinha como temática “Comunicação e Movimentos Sociais”, defendendo a mobilização, a união, a saída deste estagio de inércia em que a sociedade se encontra.
         Assim, não se pode deixar de traçar o papel histórico cumprido pelos meios de comunicação hegemônicos como ferramenta de aparelhamento ideológico importantíssimo para a manutenção do Capitalismo, deste sistema social opressor, excludente, e na construção de um imaginário social do bem estar e da inércia dos “incapazes”, para qual este é um mundo imutável independente do que faça, e continuará sempre desta forma.
         São contra estes valores, contra esta realidade, e com a esperança de que um outro mundo é, sim, possível de que podemos, sim, MUDAR esta estrutura opressora, é por isso que lutamos. E a luta pela democratização da comunicação faz-se cada dia mais necessária, da disputa para que tenhamos veículos de comunicação universitários realmente a serviço da sociedade e dos estudantes à luta por meios de comunicação alternativos, comunitários, livres que dêem voz a toda a sociedade.
        Com diversos avanços no dialogo com os outros movimentos sociais, entendendo que nós, ENECOS, enquanto movimento estudantil, também nos reconhecemos como movimento social. Dessa forma, ao longo de todo o encontro, ressaltamos a necessidade da ampliação do diálogo com outros segmentos da sociedade e da construção de lutas concretas no dia a dia.
        Nesta conjuntura, a realização de um Ato público conjuntamente com outros movimentos como a FEAB e Xingu VIVO mostrou-se bastante acertada na medida em que, alem de encurtar o dialogo com estes movimentos, tornou-se um ato bem mais plural, abarcando uma realidade mais completa do que está por trás da construção desta monstruosa Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
         E, sobre a cobertura midiática que procurou desqualificar o ato sob um único viés, que já ouvi pessoas reproduzindo argumentos parecidos de, “como estes estudantes de outros estados se acham no direito de chegar no Pará brigar contra algo?!”. Tenho algumas ponderações.
         O que os donos da mídia preferem ignorar é que Belo Monte custará cerca de R$30 bilhões, dinheiro federal; Será construída sobre o Rio Xingu, na Amazônia, o que causará sérios danos ambientais com efeitos não só na região da obra; Milhares de pessoas serão retiradas de suas casas, entre ribeirinhos, índios e demais trabalhadores, que terão suas vidas completamente alteradas sem serem ao menos consultadas, sem lhes reservarem um mínimo de dignidade; os únicos interessados na obra que, segundo técnicos, não faz o menor sentido, pois não é viável nem economicamente, nem no quesito ambiental, são empreiteiros e grupos econômicos privilegiados pelo Governo Dilma.
         Aí surge uma questão interessante, nenhuma empreiteira, político, grupo econômico, ou qualquer outro beneficiado é do local, então por que eles podem invadir o território alheio? Na linha de raciocínio propagada pela mídia burguesa, para defender a dignidade humana devemos estar de olho em nossas linhas territoriais locais, que varia de acordo com seus interesses, mas para lucrar e explorar não existem fronteiras. Com esta linha pensamento veiculada, se é por direito à terra nativa, por que estão retirando à força, literalmente, os povos locais?
          Este discurso visa uma clara ‘segregação’ social direcionada a partir dos seus anseios. Se alguém de Belém, por exemplo, for para outra cidade do Pará se mobilizar contra alguma ação de interesse do capital, o recorte com certeza mudará, deixará de ser o estado, e o questionamento será “nem é desta cidade e vem criticar isso”. Em todos os momentos somos impulsionados a valores individualistas, a esquecermos o “outro” e pensarmos apenas no “nosso”. Temos que identificar cada vez mais profundamente a tática e o discurso dominante para combatê-lo com mais clareza.
         Nesse sentido, o ENECOM Pará foi extremamente importante para apontarmos rumo à construção conjunta das lutas percebendo que cada injustiça, cada opressão, cada projeto absurdo tem uma meta clara e sempre com os mesmos beneficiados, estamos diante de um mesmo inimigo, o capitalismo, embora muitas vezes mascarado, que tem suas marcas bem demarcadas com dois destinos firmados, o LUCRO para a irrisória minoria, e a OPRESSÃO para a grande maioria da sociedade.
          Mas, assim como Galeano - nunca o citei antes -, não creio que este é o único mundo possível. Com as lutas perceberemos de forma cada vez mais nítida a presença de um novo mundo brotando, uma nova realidade desejada, um novo sentimento pulsando... Entretanto, tendo clareza que somente através da luta verdadeiramente coletiva conseguiremos fazer nascer esta nova sociedade.


*Dérek Sthéfano é estudante do 6º período de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí e constrói a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social - ENECOS -, na qual é Coordenador Regional NE3 - Gestão "Aos Que Virão".

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