sábado, 1 de outubro de 2011

Cultura, Rebeldia e Liberdade: A arte sem grades

Dérek Sthéfano*

"Eu ponho fé é na fé da moçada que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta é com essa juventude que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade que não ta na saudade
E constrói a manhã desejada...”
Gonzaguinha



Democracia. Ditadura. Democracia. Ditadura... Dois regimes sociopolíticos que, em tese, se caracterizam por ações tão distintas que não merceriam sequer serem citados na mesma frase. Vivemos numa sociedade democrática! Exaltam os mais fiéis entusiastas deste modelo.  Afinal, posso votar, e ser votado, posso beber, dançar, posso inclusive manifestar toda minha euforia e, ou, aflição, indignação.
Entretanto, cotidianamente, percebemos não ter tantas razões a celebrar. Para o escritor uruguaio, Eduardo Galeano, “a liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado", quem de fato decide o seu destino, não recebe um voto seu. A sociedade “dos direitos” vai deixando cair sua máscara, à vista, cada vez mais nítida, fica apenas uma face horrenda e castradora. A livre manifestação se transforma em veemente coibição. “Proibido!”
Neste contexto, faz-se importante destacar o papel que nós, estudantes, temos na construção de elementos que subvertam esta ordem. Lutemos com alegria em revelia a triste realidade em que estamos inseridos. Lutemos com poesia contra os insultos corriqueiramente dispensados a nós. Lutemos com rebeldia em contraposição à apatia que nos é imposta. Lutemos por liberdade, com Arte e sem as grades, que nos impõe limite.
De inicio, é preciso romper as amarras que, há muito, impedem a inserção da cultura popular dentro da universidade. Destacando espaço para além das culturas regionalistas e folclóricas, reconhecendo, também, outras manifestações culturais produzidas pelas comunidades que expressem a sua realidade, anseios e criatividade. Garantindo-lhes a inserção na rotina sociocultural da Universidade.
Hoje, fechando-se num “cubículo cientifico” a universidade só afasta ainda mais o saber produzido da ampla camada da sociedade. As ordens de proibição alastram-se cada vez a mais espaços, e ações, dos diversos ambientes que formam o Campus Universitário. “Não entre na sala de aula 12h”, “Não permaneça, no Campus, depois das 22h”, “Não beba”, “Não faça festa”... Não Pense! Nem mesmo num anfiteatro, criado especificamente para atividades culturais, se pode mais realizar apresentações.
Outrora fomentadora de cultura, a universidade se coloca como castradora de qualquer atividade que não esteja na ementa das disciplinas. No momento, o “fica proibido” é a principal sentença proferida pela Instituição. Ignorando qualquer defesa de liberdade dentro do Campus, e, literalmente, concretizando a sua separação com a sociedade, entre muros e grades.
Ignorando, ou melhor, coibindo as manifestações culturais, e pessoais, dentro da instituição, com normas, grades, muros, “seguranças”... A ordem é reprimir. Tolhendo, dessa maneira, qualquer intervenção, manifestação cultural e, ou, livre expressão da arte nos espaços físicos da UFPI.
Atividades culturais, como as tradicionais “calouradas”, funcionam como momento de lazer e intervenção não só para os estudantes universitários, como para grande parte da juventude da cidade, configurando-se, também, numa importante ferramenta de integração cultural entre a universidade e a sociedade. Principalmente num contexto de elitização dos espaços culturais, e do lazer de forma geral, que limita significativamente as possibilidades, são nestes espaços que muitos jovens podem gozar desse direito.
Será essa a única liberdade possível, respeitar as “normas” da universidade? Mesmo que sirvam apenas para reprimir?
 Acredito que não.  “Uma das características do homem é que somente ele é homem, Somente ele é capaz de tomar distancia frente ao mundo”, dizia Paulo Freire, defendendo, assim, a capacidade do homem “agir conscientemente sobre a realidade objetivada”. Conscientização esta que nos convida a tomar uma posição utópica frente ao mundo. Compreendendo por utópico, não o idealismo, mas a dialetização dos atos de denunciar, uma estrutura desumanizante, e anunciar, uma estrutura humanizante. Dessa forma, a utopia seria, também, um compromisso histórico.
Precisamos, enquanto estudantes, e, principalmente, nos entendendo enquanto sujeitos sociais, de fato, ativos na construção da práxis humana, que sofrem com estas moléstias, expor nossos anseios e lutar das mais variadas, e impossíveis, maneiras pela plena liberdade, inclusive na universidade.
            Teatro! Fotografia! Dança! Musica! Toda, e qualquer, manifestação, expressão, coletiva ou individual, deve ser livre. Ousam dizer, por exemplo, que a bebida alcoólica é proibida pela plena manutenção da ordem. Ignore! Se quiser, Beba! Vandalismo, perturbador à sociedade, é ter as universidades em condições cada vez mais precárias, falta professor, laboratório, assistência estudantil, extensão, pesquisa...
Poesia, Rebeldia e Arte! As intervenções culturais, cada vez mais escassas, precisam ser cada vez mais frequentes, que as manifestações e a livre expressão voltem a ser rotina da vivencia universitária. A rebeldia deve sair do seu encaixe reprimido pelas grades sociais do “bom comportamento”, e se transformar na mais clara expressão da indignação de uma juventude assolada pelas mazelas presentes no dia a dia.
Mantendo sempre a poesia, e a beleza, do sonhar um amanhã diferente.

*Dérek Sthéfano é estudante do 6º período de Comunicação Social da UFPI, e Coordenador Regional da Executiva Nacional Dos Estudantes de Comunicação Social – ENECOS.

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